Introdução

 

Ao fazer um qualquer tipo de trabalho sobre crianças, um dos aspectos mais difíceis a considerar é o facto de todas as crianças serem diferentes. Com ou sem a presença de uma perturbação do desenvolvimento, há vastas diferenças individuais entre as personalidades, os temperamentos, as capacidades para aprender e os desejos que caracterizam cada criança.

A quantidade de informação sobre tópicos diversos que é apresentada sobre o autismo é compartilhada por uma parte mais científica, à qual está associada o estudo e compreensão do distúrbio do desenvolvimento cerebral, e por uma parte ligada às componentes sociais e educacionais.

Sendo uma perturbação do desenvolvimento que afecta múltiplos aspectos da forma como uma criança vê o mundo e aprende a partir das suas próprias experiências, o autismo não resulta numa absoluta ausência de desejo de pertença, mas antes na relativização desse desejo. 

 Leo Kanner foi o primeiro pedopsiquiatra a diagnosticar a doença. Debruçou-se sobre algumas crianças com um síndrome desconhecido até então, o qual designou por autismo. Estas crianças revelavam incapacidade para se relacionarem com os outros e para comunicarem através da linguagem. Associados a estes sintomas, as crianças denotavam, também, estados de depressão e ansiedade.

As pessoas com autismo não têm de apresentar, necessariamente, características conjuntas, podendo revelarem-se bastante diferentes umas das outras. Contudo, há um leque de comportamentos muito específicos observados nestas pessoas: participação social quase nula, apresentam várias lacunas na linguagem, dificuldades nas capacidades imaginativas e, sobretudo, na apresentação de comportamentos repetitivos e estereotipados. Estas dificuldades centrais, que são observáveis na maioria dos indivíduos diagnosticados com perturbações do espectro do autismo, resumem-se a nível da linguagem e da comunicação, a nível do comportamento social (estes indivíduos, geralmente, consideram difícil a compreensão e/ou expressão das emoções e dificuldades na interacção social e nas actividades lúdicas) e a nível dos comportamentos e organização rígida de objectos.

O autismo é uma das perturbações mais graves do desenvolvimento das crianças, por isso, a intervenção intensiva precoce pode promover as competências individuais, comportamento, autonomia, comunicação, interacção social e funcionamento geral. O facto de não existir uma “cura” exacta para esta perturbação não quer dizer que nenhuma intervenção deva ser feita. Muito pelo contrário. Se for aplicado algum tratamento ou alguma terapia, as probabilidades da criança autista crescer e se tornar num ser humano funcional são ligeiramente aumentadas.

Na verdade, e como já foi dito, o autismo pode também chamar-se de espectro de autismo porque, para além de haver comportamentos característicos desta perturbação, muitos autistas possuem os seus próprios comportamentos. Por isso, e no decorrer do tratamento do autismo, um método pode ser muito útil para uma criança e inútil para outra. Cabe aos familiares ou amigos mais chegados decidirem qual adoptar e por quanto tempo (já que também é possível que um método chegue até determinado ponto e estacione). O importante é não parar de tentar, de pesquisar e de lutar.

            Actualmente existem várias correntes terapêuticas que podem ser usadas isolada ou conjuntamente e, como tudo na ciência, todas têm críticos e defensores. Nem todas as terapias focam os mesmos aspectos, havendo, por isso, uma grande variedade. Algumas terapias focam as suas actividades a nível do melhoramento das habilidades motoras e outras focam na aprendizagem da comunicação verbal e não verbal. Para além destas, as terapias ainda salientam as necessidades individuais de aprendizagem da criança, de uma forma lúdica e que siga os interesses da criança. Todos estes programas enfatizam, de forma crucial, o desenvolvimento das áreas relacionadas com a perturbação autista, nunca esquecendo que a área mais importante é a motivação.

 Embora o espectro do autismo resulte de uma disfunção neuro-desenvolvimental e os estudos científicos mostrem que os factores hereditários e genéticos sejam de peso, a forma como o meio ambiente lida e aceita estas pessoas é determinante no seu desenvolvimento.

Esta perturbação não afecta somente os indivíduos portadores. Afecta, também, as suas famílias e todos aqueles que fazem parte do seu dia-a-dia, especialmente quando temos em consideração a complexidade dos comportamentos, reacções e emoções que os indivíduos apresentam.

A ambiguidade desta perturbação bem como, muitas vezes, a invisibilidade das suas características, no que respeita aos aspectos físicos, faz com que, frequentemente, as competências e as emoções das famílias sejam sub-avaliadas ou mal interpretadas por aqueles que não conhecem esta problemática.

Todos estes agentes de socialização, que lutam a par connosco com o objectivo de nos tornar num membro da sociedade contemporânea, como é o caso da família, da escola e de todos os espaços físicos que nos rodeiam, têm uma elevada importância na colaboração e na participação do autista perante os seus interesses, rotinas e necessidades. Para além disso, todos estes factores contribuem para a criação de espaços de comunicação, informação e observação dos progressos, dificuldades e alterações da perturbação do espectro do autismo.